"Ontem morreu um agente de saúde
suspeito de coronavírus no
Hospital Getúlio Vargas. Digo suspeito porque não tem teste para os
profissionais de saúde."
Nos hospitais do Rio e de São Paulo,
há medo, cansaço e súplica por materiais de proteção, segundo retratam os
sindicatos de médicos e enfermeiros entrevistados pelo UOL.
Apesar da imprecisão na
contagem, começam a surgir casos de profissionais da saúde infectados.
"Pelas nossas contas, já temos 80 profissionais em quarentena",
afirma Mônica Armada, presidente do Sindenfrj (Sindicato dos Enfermeiros do RJ)
e autora da frase que abre a reportagem. Em São Paulo, os sindicatos da classe
já denunciaram instalações precárias ao Ministério Público e ao Ministério do
Trabalho, além de entrar com ação contra o governo do estado no Tribunal de
Justiça pedindo melhores condições de proteção dos profissionais. A reportagem
do UOL tem entrado em contato com as secretarias estaduais, que afirmam estar
usando todo o recurso disponível e atendendo às demandas, mas têm dificuldade
em passar dados precisos sobre a demanda atual em relação aos leitos
disponíveis. "Governo e município não vão passar dados sobre falta de EPIs
[Equipamento de Proteção Individual, traje médico], pois realmente estão em
falta", afirma Solange Caetano, presidente do Seesp (Sindicato dos
Enfermeiros do Estado de São Paulo).
No Rio, a Justiça do
Trabalho concedeu liminar ao sindicato dos médicos sob pena de multa às
organizações sociais e empresas públicas que prestam serviço ao estado e ao
município do Rio. A determinação é de que se garanta o fornecimento de EPIs e
insumos como álcool 70%, sabão e papel toalha. "Sabemos que tem hospital
quem não tem sabão. Os profissionais estão expostos. O trabalhador tem de ser
resguardado. Temos recebido muitas denúncias.", diz Alexandre Telles,
presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos do RJ).
Falta
mão de obra:
Limitações de estrutura e
pessoal já se colocam como barreira à vista para enfrentar a pandemia, com
número de contágios que deve crescer ainda no Brasil. Os sindicatos pedem
contratações. "Não tem gente para trabalhar. Precisamos de contratação
imediata. A prefeitura fez um chamado para 200 pessoas em enfermagem, mas só no
[hospital] Souza Aguiar precisa de 111 pessoas", diz Monica, do Sindenfrj.
De acordo com dados do CFM
(Conselho Federal de Medicina), em 2018, o Rio de Janeiro tinha 59.366 médicos
e uma razão médico por 1.000 habitantes de 3,55.
No mesmo ano, São Paulo tinha
126.687 profissionais e uma razão médico por 1.000 habitantes de 2,81.
A OMS (Organização Mundial
da Saúde) recomenda a proporção de um médico para cada mil habitantes.
O Seesp afirma que a falta
de profissionais nos hospitais está esticando a jornada dos contratados. Além
do cansaço, é um maior tempo de exposição ao coronavírus em meio à falta de
material de proteção. Máscaras que deveriam ser descartadas estão sendo
utilizadas muito além do recomendável, revelam os profissionais de saúde.
Para o diretor do Sinmesp
(Sindicato dos Médicos de São Paulo), o infectologista Gerson Salvador, o
número de leitos de UTIs pode ser insuficiente caso a pandemia confirme uma
evolução agressiva no estado. Para Solange, mesmo com as adversidades, o pânico
ainda não começou. "Se isso se agravar, pode haver uma dificuldade quanto
ao acesso à materiais de proteção. Principalmente para profissionais de saúde.”
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