segunda-feira, 21 de julho de 2014

Opinião: enfermagem, pedreiros e a necessidade da assistência de saúde a todo ser humano: Artigo de Pedro de Jesus Silva


Artigo de Pedro de Jesus Silva
Quando eu li a justificativa do deputado Eduardo Cunha, publicada em sua página do Facebook e no seu blog, cheguei à conclusão de que, ou ele não quer se reeleger ou enxerga a nossa categoria com tanto desprezo, que sequer precisa nos respeitar. Afinal, qual o político dispensaria os mais de 300 mil votos da enfermagem fluminense?
Ao proferir a frase “Se pedreiros trabalham 44 horas semanais, porque a enfermagem quer a jornada de 30 horas?”, Eduardo Cunha demonstrou mais do que arrogância, mas uma certa irracionalidade. Tanto fazia comparar a enfermagem a pedreiros, aeronautas, garis, professores, operários – todos os seguimentos profissionais têm suma importância na organização da sociedade. Porém, cada um na sua e ninguém tem atribuições iguais às da enfermagem. O que fica notório é a sensação de que o deputado se acha um ser imortal, imune a doenças e acidentes. Como um semideus ou um mutante. Mas, infelizmente para ele, é tão somente um homem de meia idade, desorientado pela certeza de que o poder lhe confere a eternidade.
Como qualquer ser humano no mundo civilizado, rico, pobre, bonito, feio, operário ou doutor, mais dia menos dia ele vai voltar a depender dos serviços da enfermagem, cuidados, aliás, que precisou ao nascer.
Traçando um paralelo, salvo em caso de morte súbita, a enfermagem vai acompanhá-lo até o seu último suspiro. Já o muito digno profissional pedreiro, especialista no seu indispensável e profícuo ofício, vedará com cimento a sua sepultura e pregará o mármore na sua lápide. No momento em que precisar de cuidados com a sua saúde, de qual dos dois profissionais o deputado fará questão que esteja mais preparado, atento e humanizado? Irá preferir ser bem assistido vivo ou morto?
Com certeza, o deputado Eduardo Cunha jamais dependerá dos serviços prestados em uma unidade do SUS. O que ele não sabe é que, tanto na saúde pública ou nos magníficos hospitais privados, a enfermagem – sempre ela – estará trabalhando em escalas pesadas, fazendo mais de 44 horas semanais, correndo de um emprego para o outro, exaurida física e mentalmente, e ganhando salário muito aquém do seu valor, especialmente quando todo mundo sabe que os estabelecimentos privados negociam a saúde a altíssimos preços.
Também não custa lembrar que esses trabalhadores são mães, pais e arrimos de família, com uma vida pessoal repleta de responsabilidades, sofrendo das agruras comuns de quem ganha mal, apertados no transporte público, sem áreas para descanso no serviço, e que nem sempre se alimentam bem: fatores que colaboram para desequilibrar ainda mais a qualidade de vida destes profissionais.
Ao necessitar de assistência, aonde o cidadão Eduardo Cunha for irá encontrar e contar com a mesma massa de trabalhadores explorados. Seja no SUS, nas redes privadas e nas falidas, pessimamente geridas e subsidiadas entidades filantrópicas que ele tanto defende. A enfermagem estará lá, fazendo o seu melhor, o que for possível, dentro das suas forças, para cuidar do deputado, que, no leito de um hospital será somente um homem comum precisando de cuidados.
Portanto, ainda dá tempo do deputado mudar de ideia e apoiar a jornada de 30 horas da enfermagem para que o PL2295/2000 vire Lei. Assim, quando o cidadão, o ser humano Eduardo Cunha precisar da enfermagem, encontrará uma equipe ativa, eficiente e descansada. Para o seu bem, da categoria e de toda a sociedade.
E, para que não haja qualquer mal entendido, sinceramente, desejo muita saúde e sorte ao deputado!
Pedro de Jesus Silva 
Presidente do Coren-RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário